quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cidades e Crescimento Inteligente


Alguns pesquisadores da Universidade de Tecnologia da Geórgia, nos EUA, sugerem que a adoção de veículos híbridos combinada com o “crescimento inteligente” poderia reduzir significativamente os níveis de emissão de dióxido de carbono.


Os veículos híbridos já se popularizaram no Brasil, por sermos um grande produtor de biocombustíveis e conseguirmos um valor mais em conta pelo álcool combustível, se comparado à gasolina. Mas ainda não estamos acostumados em presenciar veículos elétricos circulando pelas ruas das nossas cidades.


Fora a utilização desses veículos, o que seria o “crescimento inteligente”? Esse conceito é explicado pelos pesquisadores como um tipo de crescimento em que os habitantes das cidades podem viver em locais mais próximos aos seus trabalhos, no sentido de evitar longos deslocamentos entre um local e o outro, sem gastar tanto tempo e combustível, logo, emitindo menos gás carbônico. A vida nas cidades pode se tornar mais saudável quando as pessoas conseguirem se deslocar a pé, de bicicleta ou mesmo de metrô.


Mas seria o fim da era dos automóveis? Nem tanto. A pesquisa, publicada na revista Environmental Science and Technology, aponta que as emissões de automóveis e de caminhões em 2050 poderiam ser reduzidas aos níveis de 2000, mesmo com o aumento da frota, se todos os veículos fossem trocados por modelos híbridos, que funcionam com gasolina e eletricidade. Essa é uma boa notícia, que pode trazer alento às montadoras de veículos e aos mais preguiçosos.
A pesquisa, coordenada por Brian Stone, professor de planejamento urbano e regional, analisou dados de 11 regiões metropolitanas nos Estados Unidos e realizou simulações para um período de 50 anos, levando em conta o uso de veículos híbridos e diferentes cenários de crescimento urbano.


Mas apenas essa mudança apontada pelo estudo ainda não seria suficiente, pois levando em conta a gravidade do cenário atual de emissões de dióxido de carbono, mesmo com a hibridização total da frota, o resultado não seria suficiente para atingir as metas definidas pelo Protocolo de Kyoto. Segundo o acordo, o objetivo é reduzir em 2050 as emissões para os níveis de 1990, e não os mais elevados de dez anos depois, ou seja, aos níveis de 2000.


Para isso, seria preciso combinar a troca dos veículos com o crescimento urbano planejado. Aqui cabe a indagação: esse tipo de planejamento é possível no Brasil? Não podemos esquecer que vivemos em um país onde nem todos têm acesso sequer à moradia, por isso ainda é uma ilusão pensar na possibilidade de todos vivendo próximo ao seu local de trabalho.


O que eu observo em Belo Horizonte, por exemplo, é exatamente o contrário. As empresas se concentram no centro da cidade e as pessoas que compõem a mão-de-obra dessas empresas e comércios migram em direção às periferias, pois cada vez fica mais caro viver nas áreas centrais. E as periferias por sua vez vão se expandindo, cada vez mais distantes do centro. Assim, o automóvel individual se torna o principal meio de transporte.


Percebo ainda que predomina em Minas Gerais o modelo de expansão da malha rodoviária. Enquanto se investe na construção da linha verde e na duplicação de diversas avenidas, não sobra espaço para se pensar na melhoria e aumento da linha ferroviária para transporte de passageiros, não se investe em ciclovias e nem em alternativas de transporte público.
Outro complicador são as facilidades possibilitadas àqueles que pretendem adquirir veículos. São tantas as formas de parcelamento e financiamento e até impostos podem ser baixados para que as pessoas não deixem de comprar e as montadoras não fiquem no prejuízo.


Pensando nisso, concluo que infelizmente nossa cidade ainda está crescendo de uma forma burra.

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