quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Neutralização de Carbono: licença para poluir?


Primeiramente, para tratar do tema neutralização de carbono é essencial esclarecer o seu conceito. Este processo também chamado de carboneutralização busca, em linhas gerais, lutar contra o aquecimento global através da absorção de gás carbônico que as plantas realizam naturalmente, na medida em que crescem. É realizado através do plantio de árvores e/ou outras plantas que, por meio da fotossíntese, sequestram o CO2 e liberam oxigênio na atmosfera.


O gás carbônico é um dos principais gases que causam o Efeito Estufa, por isso é um dos chamados Gases de Efeito Estufa (GEEs) juntamente com o metano e outros. O CO2 tem sido visto como o verdadeiro vilão da problemática climática mundial, sendo que a sua emissão é considerada como uma das causas do aquecimento global.

A carboneutralização pode sim ajudar a reduzir os terríveis efeitos das emissões contínuas de GEEs, entretanto tem sido divulgado pela mídia que a neutralização de carbono seria a solução contra o aquecimento global.

Independentemente de ser cientista ou não, é fácil perceber que um fenômeno como o aquecimento global não é causado por um fato apenas, logo também não poderá ser resolvido com uma ação isolada, como sugere a idéia de carboneutralização.

É preciso entender que a neutralização de carbono é uma boa medida para ajudar a reduzir os impactos ambientais causados pelas emissões de GEEs. Entretanto, o instituto não constitui sozinho a solução para o problema do clima no mundo. Juntamente com a carboneutralização é necessário praticar várias outras ações, sendo que a principal delas é a redução, reduzir o consumo de energia, de água, de combustíveis, de alimentos, de produtos e etc.

Ainda mais preocupante é pensar que a existência de serviços de neutralização de carbono à disposição pode se tornar uma “Licença para Poluir”, gerando o efeito contrário ao que se busca atingir. Ora, se uma empresa, por exemplo, emite uma grande quantidade de Gases de Efeito Estufa e depois realiza a carboneutralização destas emissões, pode ser que os seus dirigentes durmam tranqüilos, achando que estão fazendo a coisa certa, mas infelizmente não é simples assim. O problema ambiental é mais complexo do que isso. Essa visão é puramente simplista e não leva em consideração outras variáveis.

Não sou contra a neutralização de carbono, apenas sugiro que as pessoas tenham uma visão ponderada e crítica sobre o tema para que não seja incentivada a poluição diante da possibilidade de ser realizada a carboneutralização posteriormente.

Outro ponto que deve ser analisado é se as árvores plantadas pelo serviço de neutralização de carbono constituem espécies nativas da região de plantio, se o plantio está sendo realizado de maneira correta e se é feito por profissionais habilitados, e até mesmo se as árvores permanecem no local com o passar do tempo. Tudo isso deve ser monitorado.

Produtos e/ou empresas que se intitulam carboneutros também devem ser vistos com muito cuidado. Não se deixe levar por uma simples propaganda. É fundamental investigar e buscar informações mais precisas antes de adquirir um produto ou serviço que se intitula carboneutro.

Abra bem os olhos e não se deixe enganar. Informe-se primeiro! Pense nisso: antes de neutralizar, por que não reduzir as emissões de GEEs? A mudança de comportamento pode exigir mais esforço, no entanto os seus efeitos são mais significativos do que medidas paliativas.

5 comentários:

Samuel disse...

Olá Patrícia, achei seu post interessantíssimo. Tem um blog que eu costumo ler em que o autor defende a expressão "carbon penitence" no lugar de "carbon offset". Seria algo como Culpa de carbono ou penitência de carbono no lugar de ativos de carbono, justamente pra evitar passar a idéia de que a carboneutralização não desfaz o lançamento de carbono na atmosfera. Ainda segundo ele: "Se não podemos evitar fazer o mal, vamos fazer algum bem em retribuição". Um abraço e continue com o blog. Seus posts são sempre muito interessantes...

Patricia Vilas Boas disse...

Olá Sam! De novo temos que agradecer pelos seus inúmeros acessos... Obrigada pela força! Que autor é esse? Por favor depois me passe o nome dele. Estou tentando fazer desse post um artigo e publicá-lo em algum lugar e com mais embasamento fica melhor. Já li muita coisa sobre o tema enquanto morei na Austrália, lá carbon offset é realmente um boom, aqui ainda não chegamos nesse ponto, mas estamos caminhando...

Samuel disse...

Oi Patrícia,
é o Colin Beavan do No Impact Man. Inclusive as experiências dele viraram documentário exibido recentemente em Sundance com boas críticas. Recomendo demais o blog dele! http://noimpactman.typepad.com/
para mim ele é genial! mas ele é jornalista então não sei se te ajuda muito...
um abraço..

Patricia Vilas Boas disse...

Acabei de achar a página dele. E parece mesmo muito bacana! Vou olhar com calma... Mas esse artigo que estou escrevendo a princípio não seria acadêmico não, mas sim com o enfoque mais jornalístico mesmo. Muito obrigada!

Patricia Vilas Boas disse...

Olá gente! Reforço que o site indicado pelo Sam é mesmo muito bom! Vale a pena para quem quer dar uma olhada no que os americanos estão discutindo em matéria ambiental... Então vou repetir:
http://noimpactman.typepad.com/