segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Consumo não pára de crescer


Como cada pessoa causa impacto no planeta e por que o consumo está incluído nas estratégias de combate às mudanças climáticas? Só para se ter uma idéia, de acordo com estudos realizados pelo Instituto Akatu, organização brasileira que promove o consumo consciente, uma única pessoa, se viver 72 anos, vai lotar um apartamento de cinqüenta metros quadrados, até o teto, com o seu lixo.

Para que se possa estudar com mais propriedade o rastro que cada um vai deixando ao passar pela Terra, foram criados alguns indicadores. Um deles – talvez o mais conhecido – resulta no que se chama de Pegada Ecológica. A Pegada Ecológica traça uma comparação entre o consumo humano e a capacidade da natureza de suportá-lo. O resultado dessa conta é o indicador do impacto ambiental que cada um exerce sobre o planeta.

Esse cálculo tenta mensurar conseqüências ambientais de simples atitudes do dia-a-dia até impactos maiores causados pelo desenvolvimento industrial. Assim, pela Pegada Ecológica é possível avaliar como a nossa alimentação, a energia que utilizamos, a maneira pela qual nos transportamos, entre outros fatores, impactam o meio ambiente.

O clima na imprensa
A imprensa brasileira ainda reflete pouco sobre os padrões de consumo na atualidade quando fala sobre mudanças no clima, segundo análise de textos sobre o tema publicados em 50 jornais, entre 2005 e 2007. Apenas 6% de todo o material pesquisado faz alguma menção ao assunto.

Fonte: Pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira. ANDI e Embaixada Britânica.


Capacidade esgotada – Em 1961, quando os cálculos da Pegada Ecológica começaram a ser realizados pela Global Footprint Network, a população humana já usava 70% da capacidade produtiva anual da Terra. Mas em 19 de dezembro de 1987 foi a primeira vez em que se registrou um nível de consumo de recursos maior do que o planeta é capaz de renovar no período de doze meses.

Desde então, esse cálculo marca o dia do ano em que a humanidade já usou todos os recursos que a natureza irá gerar no período de 12 meses – o chamado “Earth Over Shoot Day”.

Também chamada de Dia "D" do Consumo, a data de esgotamento dos recursos terrestres acontece cada vez mais cedo. Em 1995, ele pulou para o dia 21 de novembro. E em 2007 chegou à marca histórica de 6 de outubro. Em 2008, esse dia foi 23 de setembro. 

Essa diferença entre o que o planeta é capaz de regenerar e o consumo efetivo das populações humanas provoca um saldo ecológico negativo, que vem se acumulando ano após ano, desde a década de 80, e compromete, no longo prazo, a capacidade de sobrevivência da humanidade e de manutenção da vida no planeta como a conhecemos hoje.

O relatório Living Planet 2008 (Planeta Vivo), divulgado em outubro de 2008 pela organização internacional WWF, afirma, com base em cálculos realizados a partir da Pegada Ecológica, que a partir de 2030 a demanda por recursos naturais será o dobro do que a Terra pode oferecer, caso o modelo atual de consumo e degradação ambiental não seja superado. Atualmente, já demandamos 30% a mais da capacidade do planeta.

O cálculo do consumo

Para se entender como o Global Footprint Network chegou a esse dado, é preciso levar em consideração a metodologia usada: a conta é feita considerando toda a biocapacidade do planeta, tais como, água e o espaço físico necessários para o plantio, a pastagem, a pesca etc., ou seja, a habilidade dos sistemas ecológicos de gerar recursos e absorver resíduos num determinado período.

Ao calcular o dia em que a Pegada Ecológica total da humanidade é igual à biocapacidade da Terra (ambos medidos em hectares por ano), os pesquisadores identificam em que data a população da Terra atinge o seu limite de consumo para o período.

De acordo com o Global Footprint Network, dividindo-se a variável da área total de terrenos produtivos da Terra pela variável referente à população mundial obtém-se o valor de 2,3 hectares per capita (que inclui o uso dos oceanos). Nem todo esse espaço deve estar disponível para os seres humanos, uma vez que partilhamos o planeta com cerca de 30 milhões de espécies. Reservando-se 12% para esse compartilhamento, sobram cerca de 2 hectares per capita. Porém, embora 2 hectares por pessoa possam parecer muito (cerca de quatro estádios de futebol), a Pegada Ecológica média é de 2,8 hectares – o que, mesmo assim, representa uma subestimativa.

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