A morte na noite de ontem de Antônio Bertolucci de 68 anos, presidente do conselho da Lorenzetti e que era apaixonado por bicicletas, fez voltar à pauta discussão sobre as ciclovias, fiscalização e respeito no trânsito.
Antônio Bertolucci era neto de Alessandro Lorenzetti, que fundou a empresa, em 1923. Ele era apaixonado por bicicletas - tinha 20 modelos. Todos os dias, fazia um passeio matinal de duas horas. Acordava às 7h, comprava pão para deixar na casa do filho Rogério e seguia do lugar onde morava, nas proximidades do Shopping Iguatemi, nos Jardins, até sua antiga casa, no Sumarezinho. Depois do passeio, voltava para casa, tomava café com a mulher e ia de carro até a sede da Lorenzetti, na Mooca. Rogério diz que a família havia pedido que ele parasse de andar de bike, mas não adiantou. 'Ele adorava.'. O acidente aconteceu: foi atropelado por um ônibus em uma alça de acesso da Avenida Paulo VI e, segundo o motorista o ciclista estava em seu 'ponto cego' e, por isso, só notou o atropelamento quando ouviu o barulho e viu pelo retrovisor o corpo caído.
De acordo com a família do empresário, o coletivo estaria andando em alta velocidade e não teria respeitado o Código de Trânsito Brasileiro. No artigo 201 do CTB, ele diz que nenhum veículo automotor poderá ultrapassar ciclistas se estiver a menos de 1,5 metro de sua lateral. 'Acreditamos que essa regra não tenha sido respeitada', disse Rogério Bertolucci, de 42 anos, um dos seis filhos do empresário.
Se todos os planos e promessas de ciclovias feitos nos últimos anos fossem somados, São Paulo deveria terminar o ano de 2012 com 522 km de vias e faixas exclusivas para as bicicletas - uma infraestrutura digna de cidade europeia. Até agora, porém, a capital conta com apenas 35,7 km de ciclovias, o que representa 7% de tudo o que foi planejado para aumentar a segurança dos ciclistas no Município. Para conseguir cumprir o planejado, a Prefeitura teria de construir 486 km de ciclovias até o fim do próximo ano.
Os números constam de três fontes diferentes e foram levantados pela assessoria técnica do gabinete do vereador Chico Macena (PT), ex-presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A primeira são os Planos Regionais Estratégicos (PREs) de cada uma das subprefeituras, aprovados em 2004 como complemento ao Plano Diretor da cidade.
Os PREs detalham as obras de transporte prioritárias em cada região da cidade, que deveriam ser executadas até 2012. A ideia era fazer um planejamento de longo prazo, mas que até agora não deu certo - apenas 10 km dos 367 km de ciclovias previstos para toda a cidade saíram do papel.
Os outros 155 km previstos dizem respeito à Agenda 2012 - o plano de metas oficial da gestão Gilberto Kassab (sem partido) - e à promessa de construir 55 km de ciclovias e ciclofaixas nos três bairros onde há mais deslocamentos de ciclistas: Jardim Helena, na zona leste, Jardim Brasil, na zona norte, e Grajaú/Cocaia, na zona sul. O plano original previa que algumas das obras começariam ainda em 2009, mas até agora nenhuma delas foi iniciada. A CET afirmou que o projeto executivo está sendo concluído e a licitação para as obras deve sair nas próximas semanas.
Já a Agenda 2012 prevê a construção de 100 km de ciclovias e ciclofaixas. Até agora, 16 km de ciclovias foram inaugurados, além de 10 km da Ciclofaixa de Lazer - essa, porém, só funciona aos domingos e não é considerada infraestrutura de transporte pelos ciclistas. O evento, porém, já provocou reflexos, segundo a CET. De 2009 para 2010, a queda de mortes de ciclistas no trânsito foi de 19,7% - de 61 para 49.
Além disso, a administração vai definir e sinalizar duas 'ciclorrotas' no município, para reforçar a ideia de que ciclistas e veículos automotores devem compartilhar a faixa. A primeira delas, no Brooklin, zona sul, deve começar a funcionar ainda neste mês. A outra será inaugurada no centro.
Para o diretor da associação Ciclocidade, Thiago Benicchio, de 32 anos, não há só o desrespeito à regra, mas também uma 'impaciência dos motoristas'. 'Eles vão até o limite, antes de bater, e depois recuam. Só que no ciclista não batem, passam por cima.' Benicchio defende, além de ciclovias, o compartilhamento das ruas. 'Se tivermos mil quilômetros de ciclovia, sempre haverá milhares de ruas sem elas.'
Para o professor da USP Jaime Waisman, a cidade hoje não é para bicicleta e a solução não está em um artigo da lei. 'Não adianta ter lei se não tem fiscalização. Faltam outros princípios básicos: não há sinalização nem educação. Em São Paulo é inviável compartilhar carro e bicicleta.'
O músico Leandro Valverdes, de 32 anos, usuário de bicicleta há dez, discorda e entende que a cidade precisa se adequar. 'Também morrem muitos pedestres e precisamos mudar a situação.'
E vocês, o que vocês acham?
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